É incrível o que ouço eu por aí. No outro dia vira-se um amigo da extrema-esquerda e diz-me que não há crise nenhuma em Portugal, que só se vê por aí carros novos, casas novas, vidas à grande, grandes férias e ninguém passa FOME. Que isto é mais uma forma de "comer" dinheiro aos que menos podem, aqueles que são "sempre os mesmos". Quando eu discordei e ripostei fui logo rotulado de capitalista neoliberal cristão! É incrível a capacidade-extrema que a extrema-esquerda tem em categorizar todos aqueles que imitem uma opinião "minimamente" política!
E porque é que estamos em crise? Podia começar a falar dos indicadores económicos para a crise, da perda de produção de Portugal reflectido no crescimento económico estimado este ano para 0,5 % do PIB, a estagnação económica, que indica a baixa produção face ao consumo de produtos, ou seja, as empresas em Portugal não escoam os seus produtos nem cá nem lá fora. Isto leva ao desinvestimento na criação de novos postos de trabalho e a dificuldade na manutenção dos actuais, fazendo com que se processe a deslocalização de unidades de produção multinacionais para territórios mais prósperos e a falência de unidades portuguesas.
Mas bem sei que a extrema-esquerda não gosta de percentagens de PIBs nem de cálculos micro e macro económicos e até dizem que as "políticas económicas é uma forma dos capitalistas atacarem o estado social".
Considerando isso, vou olhar para o país: vemos cada vez mais desempregados no interior do país e nas zonas mais desfavorecidas, reflexo da deslocalização de empresas multinacionais. Vejo empresas portuguesas que não conseguem escoar os seus produtos tanto em mercado nacional como internacional, vejo famílias inteiras que começam a viver do subsídio de desemprego, sem perspectivas de se empregarem devido à idade. Vejo os cidadãos a endividarem-se cada vez mais para poderem ter alguns bens de luxo, aproveitando baixos juros para os pagarem aos poucos. Vejo a máquina do estado a endividar-se e a gastar mais do que pode sem se conseguir controlar, a caminho de uma situação insustentável que levará o país à bancarrota. Vejo cada vez mais cidadãos a perder o poder de compra a cada dia que passa, pois se não há emprego, não há dinheiro para comprar bens. E tudo isto a desenvolver-se num ciclo vicioso que ainda não foi possível parar.
Se não vemos a crise assim, teremos de esperar que os cidadãos passem FOME para aí começar a fazer alguma coisa? Aí talvez já seja tarde de mais...