18 outubro 2009

Queres coligar comigo?

A Revolta da Republica – S02E06

Enquanto no PSD se inicia a tradicional caça às bruxas do pós-eleitoral, o nosso primeiro ministro José Sócrates começa a preparar a campanha para as próximas eleições legislativas, que serão, mais coisa menos coisa, daqui por dois anos.

Num único acto para o país aplaudir, Sócrates encena um discurso de diálogo com os outros partidos parlamentares, mas, na realidade, não pretende abdicar do constante monólogo que conhecemos da anterior legislatura. Ninguém se quis coligar, logo terão de assumir as devidas responsabilidades, diz o engenheiro. Teremos dois anos de ingovernabilidade pela frente, em que o governo se queixará permanentemente da oposição que não aprova o que ele quer, do presidente da república que veta o que ele não quer, de quem não o deixa trabalhar! Uma vítima, portanto…

E ao fim dos dois anos, ou Sócrates se demite alegando não ter governabilidade parlamentar, ou o BE apronta mais um acto de terrorismo político, e com a conivência da restante oposição, derruba o governo. Aí partimos para uma campanha em que José Sócrates vitimizado coloca em xeque toda a oposição, pedindo ao país a maioria absoluta para conseguir governar! E ao fim desses dois anos, já ninguém se lembrará do que foram estes últimos quatro…

15 outubro 2009

Um caso de Péssima Informação

A Revolta da Republica – S02E05

Li, na terça-feira, uma noticia do Jornal de Negócios a indicar que o passivo da Estradas de Portugal tinha aumentado em 1400%, passando de mil milhões de euros para 15 mil milhões em 1 ano e meio.

Logo numa primeira análise achei isso bastante estranho, uma vez que trabalho na área e estou relativamente a par desses negócios. Então fui investigar melhor, e li o respectivo relatório mencionado na tal notícia. Entretanto fui ler o relatório que indicava os resultados referentes a 2007/08. Os valores são os seguintes:

Passivo:
Dez.2007 - 1.024 milhões;
Jun.2009 - 15.275 milhões;
+ 1491%

Activo:
Dez.2007 - 11.616 milhões;
Jun.2009 - 15.604 milhões;
+ 34%

Resultados Líquidos:
Dez.2007 - 1.116 mil;
Jun.2009 - 37.128 mil;
+ 3329%.

Depois de ficar admirado face estes números, ainda fui ler a nota de apresentação da respectiva empresa pública, ao que reparei que em Nov.2007 o estado assinou um protocolo em que passava o património rodoviário nacional para a mesma.

A conclusão disto foi que em Dezembro de 2007 a empresa pública Estradas de Portugal tinha adquirido a rede viária nacional ao estado há um mês, mas o respectivo pagamento pela concessão só se processaria durante 2008! Ou seja, deixou o estado de ter esse passivo (que se reflecte positivamente nos activos) para ser a Estradas de Portugal a detê-lo!

Isto é um caso de péssimo jornalismo, de falta de profissionalismo e de incompetência total: ler alguns números sem procurar justificação da "estranheza" dos mesmos. É o publicar por sensacionalismo.

E o mais engraçado é que todos os jornais e telejornais, jornalistas e comentadores assumiram o mesmo como verdade absoluta e puseram-se com levianos moralismos intelectualoides. E eu ria-me, sentado no sofá, por tamanha ignorância no ecrã!

14 outubro 2009

Um caso chamado Quimonda

A Revolta da Republica – S02E04

Um dia depois do final deste ciclo eleitoral, a multinacional Quimonda anuncia que irá despedir 590 trabalhadores.

Num artigo que publiquei em Setembro, apresentei a "desgraça" que é esta política de "salvar empregos" à governo Sócrates e que se tornou a bandeira da anterior legislatura na questão do desemprego. E tal como referi, a actuação não foi estrutural, mas sim pontual, adiando assim um desfecho previsível. A política de acção governativa terá de ser através de reformas no tecido empresarial português, nem que se tenha de quebrar com as tradicionais áreas de investimento em Portugal.

A modernização de um país não passa somente por realizar obras públicas estruturais, em acessibilidades e infraestruturas. Portugal tem de adaptar a sua economia ao novo paradigma económico mundial. E para isso terão de ser abertos incentivos estatais e oportunidades de negócio em novas áreas, sejam elas de base tecnológica, turística, serviços ou outros.

Cabe ao estado promover esse desenvolvimento, ter a visão do que é preciso fortalecer para que o investimento seja competitivo.

Agora é muita coincidência que o anúncio desse despedimento massivo tenha chegado um dia depois das eleições, facto que seria prejudicial às diversas campanhas do partido do governo. Terão os incentivos do estado servido para alguma coisa? Não existem almoços de borla...

12 outubro 2009

Fazer obras por fazer...

« ”Discussão sobre TGV e novo aeroporto têm sido de uma banalidade e infantilidade que chocam”

Para o antigo ministro socialista [João Cravinho], as discussões em torno do comboio de alta velocidade (TGV) e do novo aeroporto de Lisboa “têm sido de uma banalidade e infantilidade que chocam”, visto que não partem da “visão do país como um todo e da inserção deste na Europa e no mundo”.

“Ainda ninguém conseguiu, por exemplo, fazer com que a construção do novo aeroporto se articulasse bem como a construção do traçado do TGV, o que mostra que se está a fazer uma abordagem errada às grandes obras públicas”, destaca.

João Cravinho defende que tanto o TGV como o aeroporto são obras que têm de ser pensadas para transformar o país e que, para isso, é preciso pensar o território como plataforma inicial de todo o pensamento estratégico, o que não acontece.

“Só podemos discutir as grandes obras públicas em função daquilo que queremos fazer do país em 20 ou 30 anos e como se deve posicionar na Península Ibérica, na Europa e no mundo”, remata. »

In Público On-line, 12.10.2009