21 junho 2005

PELO LEITOR: Europa do NIM

Achei bastante interessante o comentário que o Eduardo deixou no blog. Por isso passo aqui para que todos possam ler e faço uns pequenos comentários no final. Espero com isto conseguir trabalhar num processo de troca de ideias úteis a quem as ler! Peço desculpa ser um artigo tão extenso…

Por: Eduardo Antunes

Os claros NÃO da França e da Holanda despoletaram uma crise da Europa a 25. Poder-se-á pensar que o NÃO está directamente associado ao conteúdo da constituição, ou talvez seja mais do que isso. Na verdade, a grande maioria dos cidadãos europeus desconhece o que diz a constituição europeia. Contudo, devido à crise económica imposta pela liberalização dos mercados asiáticos e adesão dos países de leste, os cidadãos vêem o referendo como uma forma de protesto, não à Europa, mas à crise. Internamente, a adesão dos novos países de leste, relativamente próximos da Europa central, trouxe uma canalização e deslocação do investimento para estes, principalmente devido ao factor custo de mão-de-obra. Não querendo fugir ao tema proposto, nomeadamente o referendo à constituição europeia, proponho um futuro tema com o título: “Europa a 25, que futuro para Portugal”. Ouve ainda aqueles que votaram contra, devido apenas a problemas internos. Assim sendo, quando a desinformação é evidente, o referendo é utilizado apenas como meio de expressão de revolta. O adiamento do referendo em outros países deverá favorecer a informação dos cidadãos europeus. É claro que o NÃO expressado pelos dois países é difícil de aceitar e é mais uma facada, numa Europa em crise e desunida.


Caro Eduardo,

Não penso que a crise que se estabeleceu na Europa esteja relacionada com o NÃO na França e na Holanda. Penso que é uma crise provocada pelos países mais fortes, que, transformando-se a Europa subitamente num espaço de 25 países, tentam monopolizar o poder de decisão neles próprios (viu-se a dificuldade de negociação do novo quadro de apoios para 2007, principalmente do lado Inglês).
Deixa-me dizer que a maioria das pessoas não conhece a constituição do seu próprio país e no entanto não é por isso que não a respeitam e não lhe conferem a soberania (a constituição portuguesa tem cerca de 300 artigos!). Acrescento ainda que o Reino Unido não tem uma constituição nacional, e no entanto é um país desenvolvido e de plena afirmação política e de soberania.
Devo dizer que concordo quando dizes que o referendo foi usado como forma de protesto ao governo (mas só teve esse impacto em França). Mas isso também quer dizer que o conceito de Europa política ainda não está completamente absorvido pelos cidadãos.
Nomeadamente na Holanda, o NÃO foi uma forma que os cidadãos tiveram de dizer que devemos “afrouxar” a velocidade a que a Europa caminha para uma Federação. É esta a minha opinião também. Estamos a acelerar o passo, sem termos ainda bem sedimentada toda uma nova dimensão política (as divergências em política externa são muitas de país para país). Além disso, os cidadãos começam a sentir que o seu país está a perder soberania, passando muitos poderes para o governo central em Bruxelas, comandado por uns senhores que não conhecem e que nem falam a mesma lingua nem nunca estiveram no seu concelho!
Acrescento ainda que o problema da abertura da Europa aos países de leste só tem maior dimensão em países pequenos como Portugal, que em vez de se industrializar e modernizar em tempo devido, preferiu continuar a apostar na mão de obra barata para atrair investimento externo.
Para concluir, e pegando na tua dica do tema a abordar, penso que antes de se discutir a um nível Europeu se devemos fazer uma constituição política para a Europa, devia-se discutir o que é a Europa nos dias de hoje, onde entraram 10 novos países recentemente. Quais são as fronteiras da Europa? Até que países poderá ser alargada? Qual o conceito de Europa? Será uma Europa meramente económica? Será uma Europa de raiz histórica comum? De cultura idêntica? De plano político semelhante? Qual o objectivo com que estamos a constituir esta sociedade de nações? Custa-me a acreditar que o conceito seja simplesmente o de fazer frente económica aos Estados Unidos. É um conceito um pouco arrogante e em nada pacifico…

2 comentários:

Jorge disse...

De momento estou sem possibilidades de ler os seus textos, mas logo que tenha oportunidade fá.lo-ei, Gostei de saber que ne visitou.

Jorge disse...

Agora sim, cá estou eu de novo, mas só para lhe dizer o quanto apreciei a análise tão lúcida, sensata e perspicaz que faz da problemática europeia a 25, com a qual comungo na totalidade.