17 fevereiro 2010

Manobras de Diversão

A Revolta da República – S02E09

Iniciando-se hoje as audições parlamentares aos personagens intervenientes no estranho caso da TVI/PT, os socialistas vêm propor incluir algumas personagens extra, as que estiveram no epicentro da polémica vigilância a Belém por parte do governo, envolvendo assim o Presidente da República, com a aprovação garantida da esquerda incendiária.

Já sabemos à partida que estas audições não darão em nada, sendo palco de meras disputas partidárias e trocas de acusações, como se constatou noutros casos recentes. Será de um grande aparato mediático, mas não passará de “mais do mesmo”. No entanto, o protagonismo que teria Sócrates e o provável “escarafunchar” da comunicação social neste assunto será infimamente menor com a introdução de um tema julgado morto e enterrado: o confuso caso das falsas escutas a Belém supostamente ordenadas pelo governo.

Quando se pretende discutir o assunto real, a maioria socrática desvia as atenções para a desinformação e, mais uma vez, para o Presidente da República. Já assistimos a isso com o caso freeport, em Março passado.

Desinformação e manipulação, manobras políticas e contactos na imprensa, é assim que se pretende instruir a opinião pública. Nunca se chegam a conclusões, os casos nunca têm um fim transparente e deixam sempre a dúvidas no ar, com o governo a introduzir a tese da cabala. Mas já começam a ser demasiadas cabalas...

15 fevereiro 2010

Escutas na Pandilha Socrática

A Revolta da Republica – S02E08

Não sei se as transcrições das escutas e os despachos judiciais que serviram de base à peça jornalística apresentada pelo semanário SOL terão provas e fundamentos que sustentem um processo-crime. Além do mais, em Portugal estamos (infelizmente) habituados a que estes processos se tornem intermináveis e completamente inconclusivos. Quando se trata de gente com poder, a justiça torna-se profundamente “cega”!

Agora acreditando que a jornalista em questão (sim, a mesma que lançou o caso “Casa Pia”) reproduziu a verdade do que estava presente do processo de investigação a que teve acesso, em que indivíduos directamente ligados ao PM Sócrates e evocando o seu nome em diversos momentos elaboram um “esquema” astucioso de controlo da comunicação social para fins político-partidários usando as posições e contactos que têm, então estamos perante o maior escândalo politico do pós 25 de Abril, algo que se apresenta totalmente inédito perante a quase concretização desse maquiavélico plano. Enquanto cidadão que vota, numa primeira análise, não me interessa se haverá um processo-crime contra o cidadão José Sócrates e a sua pandilha, ou se efectivamente vão presos, isso cabe à justiça determinar e executar. Eu pretendo saber se essas transcrições correspondem à verdade, é o carácter do primeiro ministro de Portugal que está em causa, o indivíduo que governa este país e que tem de ter a nossa confiança.

Se isso se confirmar, e depois de todas as mentiras que em três meses o próprio primeiro-ministro confirmou escondidas num desprezível “enganamo-nos” (défice, contas públicas, investimentos, apoios a PMEs, etc.), este senhor só terá de pedir licença e mandar-se para bem longe! É que eu já ando a ficar farto que nos façam de “estúpidos”, a nós portugueses!

08 fevereiro 2010

A Democracia a que chegámos

A Revolta da Republica – S02E07

Já nada nos espanta.

Depois de duvidosas licenciaturas, mal esclarecidos freeportes, suspeitosas operações de compra de canais de televisão, dúbios encerramentos de jornais da noite, ambíguos solucionamentos de jornalistas e comentadores televisivos, entre outros sinistros casos, o nosso PM já nos habituou a acreditar e aceitar passivamente estas calhandrices do dia-a-dia político.

Mais, quatro meses depois surgem défices enganados, contas públicas afinal desarrumadas, obras prometidas que não arrancaram, anunciados apoios a PMEs que não chegaram, desemprego com perspectivas crescentes e economias decrescentes: verdades absolutas que se tornaram mentiras absolutas.

Preocupadamente, estamos a abrir graves precedentes na nossa democracia, justificações para que atentados ao estado democrático sejam num futuro desculpáveis e socialmente toleráveis com estes episódios da saga Sócrates & amigos. Há quinze anos, esta impunidade nunca seria consentida. Qualquer partido que estivesse no poder, já teria respondido por tamanha depravação democrática. Mesmo hoje, se não fosse esta pseudo-esquerda na qual José Sócrates se disfarça e o único partido governamentalmente viável da oposição não estivesse em convulsão interna, o PM e o seu "staff" ministerial já se encontrava em demissão.

Daqui por dois anos, depois do intenso desgaste a que o governo será sujeito devido ao falhanço económico do país e às crescentes “calhandrices” em que o PM pessoalmente se afunda, depois de um PSD se apresentar ao país renovado e com proposta viável de governo, seremos confrontados com uma moção de censura votada no parlamento, à qual o PR terá de responder positivamente. E assim teremos eleições legislativas antecipadas.

Mas isso já todos sabemos, desde a noite de 27 de Setembro.

03 fevereiro 2010

Sarajevo @ Viagens

O Homem do Mapa - S01E01

Era tarde e estávamos cansados. Terminava o fim-de-semana em Sarajevo e a hora do comboio nocturno com destino a Zagreb aproximava-se. Optamos por descansar um pouco na living room do agradável hostel onde pernoitámos, antes de nos dirigirmos para a estação de comboios.

Àquela hora de domingo não era esperado ninguém no hostel. A cidade de Sarajevo no Inverno é pouco dada a viajantes e muito menos a turistas. No entanto, a proprietária, uma senhora com cinquenta e muitos anos, recebeu-nos amavelmente e ofereceu-nos um chá. Aceitámos.

Depois de uns minutos de conversa, em que percebemos que a senhora era professora universitária de francês e árabe e até já tinha estado em Portugal em passeio, surge o seu filho que nos fez companhia na conversa.

Contava-nos que o hostel tinha seis meses de existência, que tinha sido durante doze anos e até à pouco tempo a residência oficial do embaixador da Suécia. Entretanto os suecos tinham-se mudado e a sua família resolveu criar um espaço para receber viajantes de todo o mundo. O hostel era composto por três apartamentos muito espaçosos que ocupavam dois pisos do edifício, onde era possível albergar 40 pessoas distribuídas por quartos individuais de duas pessoas ou quartos de oito pessoas em beliches. Nos restantes apartamentos do edifício viviam a sua mãe e o padrasto, o seu irmão e ele próprio.

Ao que percebi, eram de famílias relativamente abastadas de Sarajevo. Os dois irmãos também eram professores na faculdade local e o padrasto geria uma empresa de programação informática. O edifício onde estávamos e outros na cidade pertenciam à sua família há várias gerações, estando os rendimentos assegurados pelas rendas mensais que auferiam.

Num tom amável, comentei com o nosso interlocutor que a cidade era bastante agradável para passear e estava “incrivelmente arranjada”. Responde-me que houve um grande esforço para restaurar a cidade depois da guerra.

A guerra. Precisamente o que eu queria: a história narrada na primeira pessoa a partir do epicentro do conflito.

Foram duros os três anos e meio durante os quais a cidade de Sarajevo esteve cercada por militares Sérvios, conta-me. Cada vez que alguém saía à rua, poderia ser abatido por uma qualquer mira que habitualmente estaria nas colinas que circundam toda a cidade. Ele mesmo passou um ano inteiro sem sair da porta de sua casa, do qual três meses tinham sido passados escondido na cave.

Devido aos bombardeamentos, o edifício onde nos encontrávamos à conversa tinha sido severamente atingido: o telhado tinha desaparecido, todas as janelas quebradas, algumas paredes derrubadas. Durante esses três anos e meio não houve nem água nem electricidade na cidade, nem ele foi além das colinas. Os únicos que conseguiram ir ao exterior do cerco foram os militares e os membros do governo que, escavando um túnel desde o centro da cidade até ao aeroporto internacional controlado pela ONU, trouxeram mantimentos, munições e contactos internacionais. A sua mãe pertencia ao governo da época, conseguiu sair.

Pelo que entendi, a Bósnia é composta por diferentes etnias religiosas: muçulmanos (os bósnios), católicos (os croatas) e ortodoxos (os sérvios). Durante da época da República Socialista Federativa da Jugoslávia, toda a população viva “homogénea”, sem discriminação entre essas etnias: eram um só corpo. Aquando da morte do ditador Tito e seguidamente do desmembramento da União Soviética, os estados que compunham a República separaram-se, tendo o problema agravado na heterogénea Bósnia. Em nome do Grande Reino da Sérvia que comandou a região no passado, os Sérvios não poderiam deixar possibilidade para que os muçulmanos maioritários na capital Bósnia e oriundos do antigo Império Otomano tomassem o poder do país, e assim rebentou a guerra mais agressiva dos Balcãs.

“But this is my history, I’m muslim, I’m bosniak.”, advertindo-nos para a sua versão não ser isenta. Do outro lado da colina haverá outras versões, outras visões da guerra.

Na sequência dos acordos de paz, hoje a Bósnia e Herzegovina independente tem três presidentes, um para cada etnia religiosa, estando o país dividido em cantões conforme a maioria étnica. No entanto, independentemente da maioria religiosa numa determinada zona, qualquer posto de trabalho tem de ter um terço de cada etnia. Em consequência, a selecção de uma pessoa para um cargo depende fundamentalmente das necessidades da empresa em cumprir a regra dos terços, do que do mérito e competência de cada um. O nosso amigo sentiu isso na pele: com um doutoramento de uma universidade inglesa, demorou dois anos até conseguir emprego na universidade local. São maioritariamente muçulmanos em Sarajevo.

Olhei para o relógio. A conversa estava interessante, mas já íamos atrasados para o comboio de Zagreb. Despedimo-nos e agradecemos a hospitalidade, prometendo voltar a Sarajevo. Quem sabe, um dia…

Sarajevo, Bósnia (Dezembro 2009)