29 dezembro 2005

POLÍTICA - Ota e Tgv III

TGV: uns dizem que sim, outros que não, outros perguntam “mas p’ra quê??”, e outros nem querem saber. Eu penso que o Tgv a vir, vem por bem!

Mas antes de tudo, há que definir o que pretende o Tgv. O Tgv é um comboio de alta velocidade que tem por objectivo ligar Portugal ao resto da Europa por via ferroviária. Um erro comum é admitir que o Tgv servirá para os utentes irem de Lisboa ao Porto num curto espaço de tempo: o Tgv pretende ligar Lisboa às restantes capitais europeias, e o Porto também a essas mesmas capitais, de uma forma rápida e cómoda, competindo com as companhias aéreas, preferencialmente as de low-cost, e usufruindo do espaço da União Europeia, deixando de lado a actual burocracia dos aeroportos, necessária à segurança dos países. Esqueçamos então a ideia da ligação Lisboa – Porto. Para isso já existe uma rede recentemente renovada em que operam duas tipologias de comboio bastante viáveis – Intercidades e Alfa Pendular.

Definido que está o Tgv, será que valerá o investimento de capital para o retorno que terá? Muitos estudiosos da matéria, economistas e engenheiros, dizem que o retorno do “negócio” do Tgv não valerá o investimento. Mas não teremos que olhar também a outro nível? Como será o comportamento da economia e dos agentes económicos se Portugal estiver ligado por uma via ferroviária de alta velocidade ao resto do mercado europeu? E eu já nem falo só em transporte de passageiros. Também muito se lucraria com o transporte de mercadorias em alta velocidade: poderiam empresas estrangeiras estabelecerem-se por cá, com os centros de decisão em Lisboa ou no Porto, uma vez que agora estariam muito mais facilmente ligadas às restantes capitais; as empresas portuguesas também poderiam exportar os seus produtos mais facilmente, baixando os preços de transporte, tendo em conta que a generalidade dos produtos hoje em dia saem do país nos camiões TIR. São só algumas ideias de desenvolvimento que nos colocariam mais próximos do centro da Europa, uma vez que nos vamos situando cada vez mais na periferia.

Então e o trajecto a seguir? O primeiro ante-projecto para o Tgv, pode-se afirmar que era uma ideia megalómana, sem grande capacidade de concretização na actual conjuntura, propunha a construção de muitas linhas e muitos pontos de passagem. O projecto apresentado há dias talvez seja o melhor neste momento, uma vez que se faz o investimento nos pontos essenciais, as duas principais cidades do país, mas deixa em aberto, num futuro economicamente mais risonho, o alargamento da rede. Talvez se houvesse também uma aposta numa linha em direcção ao porto de Sines, para uso exclusivo de mercadorias, não fosse mal pensado. Mas isso ficará para um outro post no futuro.

Uma coisa é certa: a Europa dos actuais 25 está a apostar no Tgv, e é essa pedalada que não podemos perder! Se no passado falhamos no timing da construção da Ota, não nos podemos dar ao luxo que daqui por dez anos estejamos a lamentar e a construir uma rede à pressa, com maior investimento de capital, quando poderíamos estar somente a fazer o alargamento dessa mesma rede.

1 comentário:

Anónimo disse...

Só não vê quem não quer.
As pessoas que não estão completamente abertas à Europa são as que mais travam este país. Não vale a pena meter entraves. Se não nos virar-mos para a europa para onde é que nos viramos? O mar já nos deu o que tinha a dar e não vale a pena continuar com as ilusões e nostalgia do passado. Liguemo-nos à Europa e tentemos retirar-lhe o melhor que ela tem.

Abraços e um bom ano cheio de ligações europeias.
César Nunes