12 janeiro 2006

NOTAS - Portugal Hoje: O Medo de Existir

"Os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar. Duas razões concorrem para que tal aconteça: o movimento saltitante com que mudam de assunto a outro e a incapacidade de ouvir.

[…] o que se procura é precisamente a discordância (não a discórdia) e, antes de tudo, ouvir o som da sua própria voz […]

Dois exemplos triviais: as mesas-redondas com vários homens políticos de partidos diferentes que algumas rádios emitem regularmente tornam-se a partir de um certo momento da discussão absolutamente ensurdecedoras. Cada um fala isoladamente ao mesmo tempo que os outros, que falam também, eventualmente de temas diferentes. Todos se esganiçam uns diante dos outros, como se o facto de ser ouvido e compreendido não tivesse importância. Já não há «mensagens», há apenas «barulho». Tem de concluir-se que interessa somente o acto de falar, fundando-se, certamente, na crença mágica de que falando e continuando a falar se força o auditório a aceitar os seus argumentos. Ou, mais prosaicamente, elevar a voz e ser o último a falar equivale a ganhar a discussão.
"

In Portugal Hoje: O Medo de Existir, José Gil, 2004

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