18 junho 2005

POLÍTICA - A questão dos professores

A questão é esta: será que a comunicação social irá aniquilar a causa dos professores?

Não me vou estender muito sobre a causa dos professores. Só queria referir que o actual governo tomou algumas medidas na defesa do “apertar o cinto” que tocou especialmente na função pública. Para a maioria dos portugueses o significado do “apertar o cinto” é a diminuição do seu ordenado, o aumento dos impostos, a maior dificuldade de viver com o dinheiro que ganham. No entanto, o que não “vêem” é que essas medidas agora tomadas vão retirar aos funcionários públicos benesses que esses mesmos lutaram 20 anos para as conseguir!

Porquê os professores? Ora falando muito directamente e abertamente, na função pública os professores são a classe mais academicamente instruída (pressupomos que seja também a mais esclarecida), e estão a ver esse estatuto, ganho ao fim de anos, perdido em dois dias…E se estão em desacordo, apresentando os seus justos argumentos, têm todo o direito à greve e à manifestação (ainda vivemos numa democracia, raios!).

Voltando à questão: irá a comunicação social apresentar correctamente e em isenção os argumentos dos professores (representando toda uma função pública) e os argumentos do governo, sem cair num dizer aquilo que os “portugueses” querem ouvir? Sim, porque o senhor electricista, a senhora empregada de escritório, o senhor mecânico, o senhor segurança, etc., acham muito bem esta descida de benesses: é a inveja do estatuto que outros ganharam organizando-se!

Questão importante é esta, uma vez que, ao que recordo, há dois mínimos anos, a causa dos estudantes foi duramente atacada pela comunicação social, que os acusou de bêbados, baldas, meninos ricos, “parasitas” que gastam o dinheiro de todos os contribuintes para andar a passear-se pela faculdade (aquilo que a generalidade quer ouvir). E as propinas vieram, aumentaram e ficaram.

Pena foi que olharam apenas a alguns casos, extrapolaram para toda uma comunidade estudantil e esqueceram a verdade da questão: terão os nossos jovens portugueses direito enquanto cidadãos a uma educação e instrução de qualidade, de modo a que possam ser um dia homens e mulheres dispostos a modernizar o país? Será este um aviso da crescente despreocupação que os sucessivos governos têm com o ensino superior? E não me falem em choque tecnológico…

Finalizando, só queria deixar este pensamento: porque é que as pessoas ficam contentes por os outros perderem o estatuto que elas não têm? Porque é que não pensam que devíamos era todos lutar para que a igualdade dos funcionários públicos e não-públicos não seja estabelecida pela fasquia dos mais desfavorecidos, mas sim pela fasquia superior, isto é, que todos usufruíssemos das actuais regalias dessa “classe pública”?

1 comentário:

Anónimo disse...

Passei a vida a perguntar-me isso mesmo. Mas, sabes, em muitas comunidades de emigrantes portugueses no estrangeiro, eles são conhecidos como "os invejosos". Palavra! Quanto a comunicação social, estamos feitos. Acho que só mesmo a blogolândia por ser livre - mas sem meios, sem estatuto e com muitos maçaricos desprezíveis pelo meio, que não é necessário fazer exames para poder criar um blog...